segunda-feira, dezembro 31, 2007

...desejos...

As passas engelhadas no côncavo da minha mão, e todos os desejos se concentram na tua ausência, tridimensional e luminosa.
Percebo o chocalho alegre dos que mais amo, alheia, enquanto tu me acotovelas o coração, ultrapassando-os à má fila e sem vergonha, um esfomeado na fila para o pão.
Amontoo os frutos secos num recanto vago da boca, do qual afasto a língua, levemente enjoada. O primeiro desejo é o de que baixes a guarda, para que eu te faça meu prisioneiro de guerra, após o que te obrigarei a derrubares todas as pontes entre nós.
O outro, o terceiro ou quarto, nem sei (como se não fossem todos o mesmo)
é o de que não me esqueças, não me esqueças,
e também, sim, pois claro, que eu tenha muita saúde e boa forma,
para te amar num corrupio atlético noite dentro, quando o momento chegar.
E dinheiro, também, para comprar rejuvenescimentos, penteados,
sapatos que me ponham alta e roupa reduzida que te fará derrapar
quando travares a fundo nos meus decotes (porque há sempre uma esquina onde nos poderemos cruzar, quem sabe, sexto, sétimo desejo).
Com uma bochecha de esquilo guloso, esgotados os abraços,
o recanto da boca, o delírio e o espumante no copo,
fecho os olhos e peço noção, meu Deus!,
um bocadinho de noção do decoro, de bom-senso, do real.
Porque esta estranheza que sinto por ti
me tornou fútil, levitante, vácua e inconsequente. Previsível.
E sem um outro objectivo que não o de chamar a tua atenção onde calha: aqui, ali...

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