quinta-feira, outubro 26, 2006

Doente BIPOLAR (pensa-se que também é o caso do Pai da Mafalda)

RESUMO
O transtorno de humor bipolar (THB) é uma patologia incurável, recorrente e crônica, sendo que inúmeros fatores de vida relacionados ao estresse demonstram influenciar o curso da doença. Devido a estes fatores, a doença está associada com grave disfunção familiar, social e ocupacional, especialmente quando o tratamento farmacológico não é realizado de forma continuada. O papel prioritário da equipe multidisciplinar no tratamento do pacientes com transtorno de humor bipolar é melhorar a aderência medicamentosa, diminuindo os riscos de recaída. Neste artigo, são apresentadas possíveis causas biopsicossociais envolvidas no surgimento e curso da doença, incluindo-se eventos de vida, meio familiar e refratariedade farmacológica. São descritas as funções da equipe multidisciplinar no tratamento da bipolaridade, avaliando-se, neste contexto, a eficácia terapêutica das diversas abordagens psicossociais em uso e as perspectivas neste campo de "intervenção preventiva".
Descritores: Transtorno bipolar/psicologia; Transtorno bipolar/terapia; Transtornos do humor; Cooperação do paciente; Recivida/prevenção & controle; Educação do paciente ; Família; Apoio social; Equipe de assistência ao paciente


Introdução
O transtorno de humor bipolar (THB) caracteriza-se como uma doença crônica, recorrente e incurável, que afeta igualmente homens e mulheres em todo o mundo. As causas do THB são multifatoriais e complexas, apresentando alterações neurobiológicas como sua principal base etiológica. A farmacoterapia é considerada o tratamento de escolha para o THB.1 Adicionalmente, fatores psicológicos e sociais, quando integrados à biologia desta doença, também podem alterar o início e o curso da mesma.2 Por exemplo, fatores genéticos têm demonstrado influenciar a capacidade de adaptação biológica (ex: neuroplasticidade) a diferentes estresses sociais, a chamada vulnerabilidade genética.3 Deste modo, visto de forma integrada, o THB pode ser considerado uma patologia endógena fortemente influenciada por fatores exógenos ou psicossociais. Na última década, tem sido demonstrado que inúmeros fatores psicossociais influenciam o surgimento do THB, incluindo-se fatores relacionados ao funcionamento social, familiar, psicológico e ocupacional. Fatores psicossociais podem contribuir de 25-30% na variação do curso da doença no THB, representados em grande parte por situações de vida.4 Inúmeros eventos de vida relacionados ao estresse têm demonstrado influenciar o curso do THB. No THB, o estresse secundário aos eventos psicossociais apresenta influência no ritmo circadiano5 e na interação social.6 Segundo Post,7 os eventos de vida apresentam impacto gradativamente menor com a evolução do THB. Como achado epidemiológico reforçando a validade deste modelo, estudos descrevem que eventos de vida relacionam-se mais fortemente com o primeiro episódio que com os subseqüentes.8
O déficit psicossocial dos pacientes com THB é severo e a melhora tem sido relacionada com bom suporte familiar e social. Os efeitos negativos na aderência ao tratamento farmacológico e prognóstico influenciado por fatores familiares envolvem a expressão negativa das emoções, o desconhecimento sobre a doença, a estigmatização do paciente e a negação da doença.9 Cerca de 1/3 dos pacientes com THB utilizam menos da metade da medicação prescrita. Este dado parece estar associado diretamente com o aumento dos índices de suicídio e hospitalização.10 Ainda, uma grande proporção dos pacientes apresenta importantes sintomas residuais entre os episódios.11 Levando-se em consideração que pacientes aderentes apresentam redução na duração da hospitalização e que abordagens psicossociais associadas a farmacoterapia apresentam os melhores resultados no tratamento do THB, esta revisão objetiva avaliar o papel da equipe multidisciplinar no manejo do THB, discutindo a eficácia das terapêuticas psicossociais já estudadas.

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